Mais do que ter acesso à internet, uma fazenda conectada significa cobertura de toda a área produtiva, desde a possibilidade de usufruir dos recursos de agricultura de precisão até a comunicação entre as pessoas. Saiba quais as melhores opções em tecnologia para se conectar no campo.
Em meados dos anos 1990, a internet nascida nos meios acadêmicos começava a chegar às empresas. A conectividade era algo até então restrito a grandes sistemas acessados por terminais de computador. Já no meio rural, experimentavam-se os primeiros resultados dos programas de eletrificação rural. Passa dos 30 anos, a conectividade assumiu um papel na sociedade semelhante a recursos básicos como energia e água, tornando-se um insumo cada vez mais importante para o agronegócio. Mas ela é tão rara e indisponível no meio rural quanto a energia elétrica era nos anos 1970. Estima-se que mais de 70% das propriedades rurais não têm acesso à internet.
Só que a internet é apenas a ponta do iceberg. Há uma diferença enorme entre ter internet e o que se pode chamar de fazenda conectada. A internet naturalmente entra na fazenda pela sede, tanto para atender necessidades pessoais quanto para atender demandas operacionais básicas, como o contato com fornecedores, clientes, prestadores de serviços, serviços financeiros, etc. Já a fazenda conectada implica cobertura de toda a área produtiva, permitindo que os recursos de agricultura de precisão sejam aplicados de fato.
A conectividade cobrindo grandes áreas só pode ser atingida utilizando-se tecnologia de redes celulares, semelhante ao que ocorre em áreas urbanas. Em países desenvolvidos, as redes celulares públicas cobrem praticamente toda a área urbana e rural. No Brasil, onde a concentração urbana é enorme e as áreas produtivas ocupam vastas áreas com vazios demográficos, não é economicamente interessante a expansão da cobertura da rede pública para o meio rural.
A boa notícia é que a introdução das redes 5G trouxe uma redução importante no custo e na complexidade das redes 4G, que são muito adequadas para a conectividade rural. Além das grandes operadoras de uma fazenda conectada possibilita a cobertura de toda a área produtiva, sobretudo para que os muitos recursos de agricultura de precisão sejam aplicados a campo Telecom que têm estado muito atentas às oportunidades do agronegócio, provedores de internet regionais estão se capacitando para ofertar esse serviço, tanto com o provimento de internet para comunidades rurais e pequenas propriedades, quanto para entregar redes privadas com grandes áreas de cobertura para proporcionar à fazenda conectada. Uma alternativa interessante são as redes via satélite de baixa órbita, que podem, inclusive, ser combinadas com a rede 4G.
Conectividade para cada tipo de demanda
Há uma enorme gama de necessidades e não existe uma fórmula única. Grandes áreas de produção de grãos, com milhares de hectares em áreas planas, são muito adequadas para redes privadas com tecnologia celular de 700MHz de longo alcance, com distâncias que podem atingir 25 quilômetros a partir da torre. Quando se lida com propriedades menores, como na Região Sul, essa mesma infraestrutura pode ser compartilhada entre várias propriedades. Em áreas de culturas perenes, deve-se observar o modelo de manejo, as características da cultura e do terreno. Densidade de vegetação e terrenos pouco planos oferecem obstáculos à cobertura do sinal.
Uma opção interessante é a das estações móveis, pequenas estações de rádio autônomas, conectadas via satélite, que podem ser transportadas junto com a frente de trabalho, mantendo a conectividade da operação. Comunidades rurais, com residências, serviços públicos e empresas familiares podem ser atendidas com outras frequências de redes celulares que oferecem maiores velocidades e são mais adequadas para serviços de banda larga. O começo é sempre a análise da necessidade, seguido da avaliação das possibilidades de licenciamento na região e da identificação da tecnologia mais adequada.
Aumento de produtividade e redução de custos
O aumento da produtividade e da eficiência é um desafio permanente no campo, como é em qualquer atividade econômica. A grande novidade é a enorme disponibilidade de novas ferramentas surgindo a todo o momento. No fundo, essas ferramentas têm um grande propósito: coletar dados diversos – características de solo, umidade, presença de pragas – em quantidade e granularidade na propriedade, correlacionar esses dados com informações meteorológicas e dados estatísticos e, finalmente, realimentar a rotina e a tomada de decisão nas diferentes fases da produção, desde o preparo do solo até a colheita.
As informações produzidas a partir da análise dos dados coletados com frequência surpreendem pelo seguinte: diferentes níveis de produtividade num mesmo talhão, microclimas, erros humanos na operação do maquinário, além de desperdício de insumos de um lado, falta de insumos de outro, elevando custos ou diminuindo a produtividade. Várias dessas ferramentas do arsenal de agricultura de precisão podem produzir resultados, mesmo desconectadas. As informações demoram para que sejam coletadas manualmente e analisadas. Não há como monitorar o funcionamento dos equipamentos; é longe do ideal.
Quando conectado, o resultado produzido por esses dispositivos é muitas vezes superior. Em muitos casos, a conectividade não é opcional; é insumo obrigatório da solução. Um bom exemplo desse caso é o monitoramento da operação das máquinas, a chamada telemetria em tempo real. Todo o maquinário agrícola produzido na última década, assim como um automóvel, tem um conjunto de computadores embarcados que controla centenas ou milhares de sensores e atuadores que permitem antever desgastes de peças ou quebras.
Basta imaginar o tempo de indisponibilidade de um equipamento quebrando no meio da janela de plantio ou colheita, parando a operação, acionando a concessionária e aguardando todo o tempo de conserto. No cenário ideal, a concessionária já dispara o envio do técnico com a peça antes que a máquina quebre – tudo iniciado pela informação coletada durante a operação e em tempo real.
A conectividade não é um fim em si mesma, mas um insumo de produção e uma ferramenta de trabalho. Além da agricultura de precisão, é possível poder utilizar o smartphone para se comunicar em toda a área da propriedade e ter informações para a tomada rápida de decisões. Tudo isso está mais próximo e mais acessível do que parece.
Fonte: A Granja
Foto: Canva e A Granja