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Reportagem especial da RTI sobre Edge Data Centers

14 de novembro, 2022

A crescente demanda por processamento e armazenamento de dados mantém o mercado aquecido. Em 2021, foram contabilizados mais de 600 data centers hyperscale nomundo e a tendência é de forte crescimento para os próximos anos, com a migração gradual das aplicações de TI on premises para a nuvem. Mas um movimento paralelo que também vem se intensificando é o de micro data centers (edge computing), onde a computação é realizada de forma local e descentralizada, mais próxima da borda da rede e de onde os dados são gerados e consumidos.

Serviços emergentes como IoT – Internet das Coisas, realidade virtual e metaverso exigem latências extremamente baixas, requisito que somente o processamento local pode suprir, ao evitar que os dados sejam transportados por longas distâncias até a nuvem ou data center central. A estrutura de redes existente, por mais eficiente que seja, tem dificuldades de atender. Algumas tecnologias, como o network slicing/segment routing, que estão surgindo em switches e roteadores de última geração, são capazes de endereçar parte do problema, mas não de resolver a questão devido ao enorme crescimento do volume de dados.

“Com a aplicação de técnicas de engenharia de tráfego, a rede pode apresentar a performance adequada para diversas categorias de QoS. Mas se a rede tem gargalos, não há mágica que resolva a situação sem que alguma categoria de serviço não seja penalizada. E cada segmento vai agregando alguma latência aos dados”, afirma Ricardo Pianta, CEO da Venko Networks, empresa com sedes em Porto Alegre, RS, e Curitiba, RS, especializada em soluções disruptivas de conectividade, baseadas em padrões abertos e desagregação dos equipamentos e aplicações.

Um bom exemplo de descentralização de tráfego está nas CDNs – Content Delivery Networks, usadas para melhorar a experiência em streamings de vídeo e multimídia, aplicações extremamente massivas em termos de volume de dados.

O conceito está se expandido para um universo enorme de aplicações distribuídas e que serão aceleradas nos edge data centers através de plataformas computacionais especializadas. A Venko está apresentando a operadoras e provedores no Brasil as soluções desenvolvidas pela Benu Networks, empresa especializada em soluções edge virtualizadas e definidas por software, fundada em 2010 em Boston, EUA, por profissionais da área de tecnologia com apoio de vários fundos de investimentos.

A SD-Edge da Benu foi uma das finalistas do OpenBNG RFI, programa de inovação lançado pelo TIP - Telecom Infra Project, em conjunto com as principais operadoras internacionais, entre elas a BT, Deutsche Telekom, Telecom Italia, Telefónica e Vodafone. Para tomar a decisão, a TIP fez uma avaliação detalhada das respostas ao OpenBNG RFI, que continha quase 2000 requisitos em roteamento, recursos BNG - Broadband Network Gateway e serviços MPLS de borda.

A plataforma Benu SD-Edge já está em operação em diversas empresas, suportando uma variedade de funções de rede, incluindo BNG, Wi-Fi Access Gateway (WAG), Trusted WAG (TWAG), SASE - SecureAccess Service Edge e Gateway de Acesso 5G (AGF), que rodam em servidores Intel. “Transformamos um servidor padrão de mercado em um appliance de alta performance, um edge multifuncional, sem precisar ter um equipamento para cada função, como ocorre tradicionalmente”, diz Pianta.

Segundo ele, funções avançadas de roteamento, firewall, CGNAT, BNG, WAG, OpenRAN são extremamente intensivas no uso de CPU e não podem ser executadas no plano de dados dos switches e roteadores convencionais. “Daí a vantagem do uso de servidores”, afirma. A plataforma oferece uma gerência centralizada, que possibilita que as aplicações sejam ainda mais segmentadas e rodem em diversos locais, num conceito de nuvem.

A Benu anunciou recentemente o aumento de processamento para mais de 100 Tbit/s do BNG Broadband Network Gateway usando Intel Xeon 3 geração. O upgrade permitirá resolver problemas de aplicações computacionais resultado do crescimento exponencial da capacidade de processamento dos dispositivos. “Um iPhone 14 Pro tem cerca de cinco vezes a capacidade de um Intel i5 de quinta-geração, lançado em 2015. Com isso, a capacidade dos smartphone de produzir e consumir dados cresceu enormemente, colocando pressão sobre os data centers que concentram e suportam essas aplicações”, afirma Pianta.

O modelo clássico de acesso, agregação e core estabelecem exatamente a estrutura hierárquica que foi utilizada nas últimas décadas na construção de redes. A comunicação de dados sempre apresentou uma arquitetura que, quanto mais se aproxima da borda da rede, mais especializada e diversa se torna.

“Consequentemente estamos falando de um data center distribuído em diversos níveis e tamanhos, e que desempenha tanto tarefas computacionais viabilizando novas aplicações e delivery de conteúdo, quanto tarefas de rede”, afirma.

A convergência da virtualização de funções de rede (NFV) com as SDNs - redes definidas por software ajudará a lidar com a complexidade da nova forma de modelar e entregar serviços de rede. “É como mesclar a estrutura hierárquica funcional rígida do mundo de redes com a estrutura flexível proposta pela distribuição de capacidade de processamento em múltiplos níveis de data centers”. A tendência é a descentralização do processo. E o conceito data center monolítico que existia no passado será quebrado para ficar cada vez mais próximo do edge.

Infraestrutura e mercado

A Vertiv, fornecedora global de soluções de infraestrutura de missão crítica, foi uma das primeiras empresas a apostar no crescimento do mercado de edge computing. “Todas as nossas previsões realizadas nos últimos cinco anos se concretizaram. Tivemos até algumas surpresas positivas”, diz Francisco Degelo, diretor de Desenvolvimento de Negócios de Data Centers Vertiv Latam. De acordo com ele, a pandemia acelerou o processo de transformação digital e aumentou a demanda por serviços de melhor qualidade e baixa latência, abrindo caminho para o edge se consolidar como uma ferramenta vital para os negócios. “É uma tendência sem volta”, afirma.

De fato, investimentos expressivos previstos para o edge computing mudarão o perfil do ecossistema de data centers nos próximos quatro anos. Segundo uma pesquisa mundial realizada pela Vertiv, com 156 profissionais da indústria de data centers, até 2026 a participação do edge sobre a computação total passará dos atuais 21% para 27%. 34% dos pesquisados estão planejando ou no meio de implementações com a solução. O crescimento do mercado é da ordem de 20% ao ano na América Latina.

Além do avanço das implantações na borda, os participantes da pesquisa preveem também um crescimento de 150% nos sites de core e maior atividade na nuvem no período analisado (de 2022 a 2026). “A demanda por recursos de computação está crescendo de forma exponencial em todas as esferas. No Brasil, há alguns anos, o mercado executava em média um grande projeto de mais ou menos 20 MW por ano. Hoje os grandes players de colocation estão construindo 70, 80 MW de capacidade ao mesmo tempo. Ou seja, são três ou quatro megaprojetos acontecendo simultaneamente. Isso é totalmente sem precedentes em nossa indústria”, diz Degelo.

As perspectivas ganham ainda mais força com a entrada em operação e expansão das redes 5G. “O edge computing empodera o 5G ao levar a capilaridade com baixa latência e alta largura de banda para perto do usuário”, afirma. Capitaneado pela nova tecnologia móvel, o setor de telecomunicações passará por uma mudança cultural. “A rede 5G vai aproximar os dois mundos, unindo o crescimento explosivo do mercado de telecom com a resiliência e eficiência do mundo de data centers”, afirma. Nesse cenário, antigas centrais de comutação podem se tornar sites de edge computing, assim como torres de celular passarão a atuar como concentradores, com um ou dois racks encarregados do processamento local.

Para atender o mercado de edge, a Vertiv oferece a linha Smart de soluções compactas pré-fabricadas, composta pelos modelos Smart Cabinet, com um único rack até 30U e capacidade de 3 ou 5 kW; Smart Row (fila); Smart Aisle (permite formar um corredor com no mínimo três racks e expansão conforme necessidade); e Smart Mod (contêiner). Os produtos são modulares e fornecidos com a infraestrutura completa de energia, refrigeração e monitoramento.

“O modelo mais compacto, o Smart Cabinet, pode ser entregue e instalado em um dia. Basta conectar o rack na tomada comum de 20 A, sem necessidade de infraestrutura especial ou mão de obra especializada”, diz o diretor. A interface homem-máquina (IHM) na porta permite controle local ou remoto. “Aplicamos o mesmo conceito de modularidade e crescimento gradual adotado nos grandes projetos, com Capex sob demanda”, diz.

As vendas da Vertiv de soluções pré-fabricadas para o mercado de pequenas e médias empresas e edge dobraram em quatro anos. “Temos plantas produtivas dedicadas para esse tipo de solução na Europa, na Ásia e no Brasil, que abastece também toda a América Latina”, diz Degelo. Ele lembra que, apesar da simplicidade da plataforma para o usuário, a solução envolve um grande trabalho de engenharia por trás, com uma enorme quantidade de recursos e funcionalidades embarcadas.

A facilidade de operação é também estratégica e ameniza o problema de falta de pessoal especializado, uma realidade que afeta todos os tipos de data centers, desde instalações de edge até empresariais e hyperscale. Para as grandes instalações, inclusive, a Vertiv oferece também serviços de operação e de manutenção aos clientes, chamados pela empresa de DCOM – Data Center Operation Management , que coloca à disposição um time de especialistas capazes de realizar o monitoramento remoto, melhorar a eficiência energética e garantir a continuidade das operações críticas.

Um dos contratos mais recentes foi assinado com a Elea Digital, com seis data centers localizados nas principais áreas metropolitanas, incluindo São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Brasília. “Mais do que vender e entregar produtos e soluções, queremos ser parceiros do cliente e ajudá-lo a executar sua operação. Se a dificuldade hoje no mercado é preencher os quadros com profissionais qualificados, então vamos prestar esse serviço”, afirma o diretor. Com fábrica em Sorocaba, SP, a Vertiv conta com programas de treinamento técnico em Barueri, SP, onde realiza cursos práticos para suas equipes, canais, instaladores e clientes.

Edge data center em Manaus

Apesar da biodiversidade e do enorme potencial econômico, a região Norte carece de infraestrutura e integração com o restante do país. O mesmo acontece com a Internet. Segundo o NIC.br, Manaus, AM, conta com cerca de 60 ASNs - Sistemas Autônomos. Comparativamente, a cidade de São Paulo tem 2392. Por isso, é um ótimo negócio investir em data centers para oferecer serviços de colocation, nuvem, backup e redundância não apenas às empresas locais, mas também às corporações de outras localidades que precisam ter um POP na região (edge data center).

Essa constatação foi o que motivou o engenheiro Ricardo Kallai, profissional com mais de 30 anos de experiência no segmento de telecomunicações, a criar uma empresa, a M4RD, e construir um data center no centro de Manaus. “Tenho sido procurado por diversos clientes, pois a cidade tem pouquíssimas opções capazes de oferecerserviços com alta disponibilidade e segurança”, afirma. A estrutura está sendo montada com o conceito de sala segura, com 35 m2 de área e sete racks, com possibilidade de expansão. A primeira fase será inaugurada ainda em novembro. Entre os primeiros clientes estão uma operadora de telefonia (STFC) de São Paulo e uma empresa de máquinas virtuais que precisa de serviços de backup.

Paralelamente às obras de adequação da unidade, a M4RD está negociando com a distribuidora Amazonas Energia para a criação de um anel óptico, utilizando a infraestrutura de energia existente, de cerca de 10 km, que passará na frente de empresas como Prodam, Embratel, Oi e Vivo. “A ideia é oferecer interconexão para essas operadoras”, afirma. O mesmo circuito óptico chegará perto de um dos hospitais privados mais importantes do Norte-Nordeste, da rede Samel, com duas unidades em operação e uma terceira em fase final de construção, além de clínicas e laboratórios. A Samel já cliente de Kallai na área de consultoria de redes e integração de cabeamento estruturado. O anel óptico da M4RD possibilitará a integração e redundância entre todas as unidades da Samel, em conjunto com dois provedores de Internet locais, e backup no seu data center.

A parceria com os provedores também será importante para diminuir a latência nos serviços de nuvem que a M4RD pretende oferecer, como AWS e Microsoft. Para esses casos, os clientes serão atendidos com VPN rodando sobre fibra até o seu data center.

Posteriormente, a estrutura da M4RD abrigará ainda um pequeno headend para armazenamento de programação de TV local e CDN para conteúdos nacionais e internacionais. “O tráfego de streaming é muito pesado. Essas iniciativas devem reduzir os problemas de latência, em especial fora de Manaus, e melhorar a experiência do cliente”, finaliza Kallai.

Fonte: RTI

Imagem: Ricardo Pianta/Arquivo Pessoal